7.11.09

III. Os rebatedores

Tinteiros infalíveis absorvidos pelas telas que se eximem do que elas próprias dirão a seguir.
Significantes dos Tempos.
Improvável Ordem de letras autônomas, espaçadas entre si:
quando se tocam, notam grave erro de Impressão,
quando se separam, perguntam se duplo é o espaçamento,
sem antes perguntarem o que seria esse Espaço em Times.

6.11.09

II. Os rebatedores

Existiam também aqueles que se desmanchavam com o tempo,
tacando sua Passagem por todos os lugares,
com um medo tremendo da velhice.
Podiam falar de Dali de certa maneira,
e do filme cachoeira em sua melhor panorâmica-tóxica,
com um medo tremendo de também falarem Hans Donner.

4.11.09

I. Os rebatedores

... emergem os preguiçosos que caminham sempre tão pouco,
rebatidos para o lugar mais sem dificuldades
em correspondência das Inversões,

enquanto outros imergem
para outro Lugar,

espectro social
extra óptico
...

2.11.09

Sonia Silk nos lembra o my week beats your year e o pavor da velhice. Pavor.
Já passou o tempo em que o tempo não contava.


em
Copacabana mon amour
1970

29.10.09

Ao três de novembro de dois mil e nove






















- Ferreira Gullar
em
Vanguarda e subdesenvolvimento - ensaios sobre a arte
Parte II
1969













(...) O que meus olhos viram foi simultâneo: o que transcreverei, sucessivo, porque a linguagem o é. (...)

Jorge Luis Borges
lembrando
O aleph

24.10.09

(...) Esta etapa da arte política, no Brasil, colocou alguns problemas novos e, de nôvo, alguns problemas velhos. Dêstes, o mais importante foi a volta à radicalização cepeciana, à subestimação dos problemas estéticos e culturais em função da denúncia e da propaganda política, que se verificou não apenas em grupos teatrais universitários mas também em grupos profissionais. O outro problema surgido foi o abandono do sentido didático (brechtiano) do teatro político em favor de uma posição irracionalista, que libera o dinamismo das formas cênicas e às vezes atinge o nível da pura e simples agressão ao público. Esta tendência, como a anterior, decorre de uma visão política da situação brasileira, cujo fundo é o revolucionarismo de classe média. Tais espetáculos são como rituais mágicos em que, por exorcismos, se pretende destruir o inimigo transformado em fantasma ou espírito-do-mal. O êxito dêsses espetáculos, em que se mistura a frustração política à frustração existencial, decorre precisamente da atmosfera mágica exasperada que se cria, e do fato de que, como a realidade exterior é reduzida a mitos e fantasmas, o ritual se cumpre sem deixar restos e o espectador se "realiza"... Esta tendência, importada de Paris e estrumada pela situação política opressiva, é um sinal de um possível retôrno de certos artistas ao caminho da arte-pela-arte. Não é por acaso que os defensores dessa tendência adotaram terminologia idêntica à dos concretistas e desenvolveram a teoria de que o fundamental, no teatro, não é o texto mas o espaço cênico. Noutras palavras - e simplificando - não é o "conteúdo" mas a "forma".
Dentro dêsse mesmo processo de afastamento dos problemas concretos da sociedade se situa o súbito interêsse (já agora esmaecido) de certos círculos intelectuais pela tese da "sociedade unidimensional" de Herbert Marcuse, que oferece argumentos aos que, contrários ao status quo, não compreendem que a transformação qualitativa da sociedade pode exigir longos anos de trabalho e luta obscura. Oscilando entre a ação extremada e o desencanto, essas pessoas são fàcilmente prêsas de teorias como a de Marcuse que, fechando as possibilidades reais de transformação, justificam o abandono da luta ou a exasperação suicida.
Mas essas "vanguardas" trazem em si, embora equivocadamente, a questão do nôvo, e essa é uma questão essencial para os povos subdesenvolvidos e para os artistas dêsses povos. A necessidade de transformação é uma exigência radical para quem vive numa sociedade dominada pela miséria e quando se sabe que essa miséria é produto de estruturas arcaicas. A grosso modo, somos o passado dos países desenvolvidos e êles são o "espelho do nosso futuro". Sua ciência, sua técnica, suas máquinas e mesmo seus hábitos, aparecem-nos como a demonstração objetiva de nosso atraso e de sua superioridade. Por mais que os acusemos e vejamos nessa superioridade o sinal de uma injustiça, não nos iludimos quanto ao fato de que não podemos permanecer como estamos, e estamos "condenados à civilização". Não podemos iludir-nos tampouco tomando as aparências da civilização como civilização, as aparências do desenvolvimento como desenvolvimento, as aparências da cultura como cultura. No entanto somos prêsas fáceis de tais ilusões. Mas por causas complexas. Temos necessidade do nôvo e o nôvo "está feito". O velho é a dominação, sôbre nós, do passado e também do presente, porque o nosso presente é dominado por aquêles mesmos que nos trazem o nôvo. Precisamos da indústria e do know-how, que êles têm, mas com essa indústria e êsse know-how, de que necessitamos para nos libertar, vem a dominação. Assim, o nôvo é, para nós, contraditòriamente, a liberdade e a submissão. Mas isso porque o imperialismo é, ao mesmo tempo, o nôvo e o velho. O nôvo é a ciência, a técnica, as invenções, que são propriedades da humanidade como um todo, mas ainda estão em grande parte nas mãos do imperialismo, que é o velho. Por isso mesmo é que a luta pelo nôvo, no mundo subdesenvolvido, é uma luta antiimperialista. E isso é tanto verdade no campo da economia, como no da arte. A verdadeira vanguarda artística, num país subdesenvolvido, é aquela que, buscando o nôvo, busca a libertação do homem, a partir de sua situação concreta, internacional e nacional. (...)

- Ferreira Gullar
em
Vanguarda e subdesenvolvimento - ensaios sobre a arte

1969

20.10.09


lembrete estético: nunca baixar a cabeça.
nem para a memória
nem para a experiência
nem para o que ainda não existe

.r

10.10.09

lembrete climático.
A passagem é algo realmente fascinante. O poder dos múltiplos, multidão, a coragem do não-lastro e o medo que decorre disso. É fascinante ver as figuras morrerem e daí tirarem sua vitalidade: não há como ser triste, não há como ser feliz, só há e há. A. Talvez. Flanar no conceito, tic tac, dando voltas completas em círculos intermináveis. Olhar também a Akerman com cuidado.

Talvez preto e branco. Sim, talvez preto e branco para poder sumir com tudo na sombra sem precisar justificar as cores morrendo. Luz e não-luz, isso deve bastar. Sim, preto e branco é uma possibilidade.

Ela diz em algum momento que posando sente como se estivesse dormindo. De onde vem o sono? Ele está em quem? Nos escultores? Sim, o sono é luz e não-luz, as cores são outra coisa.

Primeira metade incrível, os cafés explodindo em fábulas.

.r

4.10.09


Lembrete visual: Ofélia me toca. Por quê?
: Pinturas do real. Como?

.r

10.9.09

Three Transitions, 1973, Peter Campus




Erupções do Eu, dizimações do Você. Remendos eternamente provisórios.

.r

7.9.09

Still life, de Jia Zhang Ke, 2006



Campoecontracampo
. Sem pausas para distingüir paisagens e rostos. De sopetão sutil, confusão hipermoderna, gigantismo atômico onde se apertam dezenas de corpos e copos ou ainda milhares de cotovelos vazios de presenças passadas. Aglomeração prescrevida e planejada.





..............

Resta girar por aí sem compreender muito bem esse mundo cifrado em ovnis.
Campoecontracampo decolam de continentes de carne e pedra. Voierismo vingado através da personag... pela persona. Acendam as luzes de todas as pontes que a desorientação vai passar. Paleontólogos pincelam uma tela pintada por pintores que carregam suas carcaças 156 metros fio acima.

Campoecontracampo do equilíbrio: super- e sub-, acima e abaixo da linha da saudade de não sei o quê.
.r

15.8.09

A estética da fome


Um grupo discreto andava, um bloco deslizante de mãos em bolsos e pescoços encurtados. Talvez andassem com certeza demais pra se dizer que não tinham rumo ou bandeira, ainda que isso não importe. Eles se olhavam olhando para frente e para trás, para os lados, para o alto, mas não se olhavam e se viam muito bem, um degelo.

Um deles falava com força em ponto de fusão, prestes a romper com a real realidade e com aquilo que eles vibravam no instante descrito. Como se mergulhasse em um espelho líquido "vamos mergulhar" e por um breve silêncio houve a impressão de "vamos orgulhar", mas ao dobrar a calçada bruscamente rumo ao cinema de calçada - não era mais de rua, pois ali se vendia muito caro apenas àqueles que se queriam como compradores e ainda mais como pagadores - as coisas se esclareceram brandamente sem precisar se perguntar nada. O soquinho no estômago se auto-explicava. Cartaz de improvável sucesso - ao menos enquanto pagadores, pois sabia-se que as sinopses eram meras emersões oceânicas à calçada.

Talvez devessem banir as descrições, realmente, como dizia Glauber em entrevista centrífuga. É pra ver e ouvir, não dá pra contar. Então o que restará depois será apenas o movimento de voltar sem rumo às calçadas, mas com algo imergido no peito como uma tatuagem de marinheiro, um upload. Então uma resenha é de fato um download bastante duvidoso, vagaroso e que no fim não se pode instalar. Mas quem se importa com a utilidade de algo que não prescinde utilidade não faz movimentos bruscos rumo ao cinema ou à algo tão... sem rumo... sem sentido.

Aquele querido mês de agosto é um filme de fronteira. Humana, de alcance, estética, e de língua para os brasileiros. Conta-se uma histórinha que não importa, uma fábula apodrecendo em outros filmes e cinemas, que já foi vista de tantas maneiras em análise combinatória, que se chegou ao ponto de que ficção é constatação pública. Loteria garantida. Usando dessa impossibilidade de contar algo novo nos moldes antigos, o filme mergulha na pré-produção, assumindo-a como pesquisa e processo. Mas não se trata apenas - apenas- de outra metalinguagem deslumbrada com o reflexo, mas da tentativa de encontrar um mapa interior e anterior ao filme em si. E nesse movimento encontramos o que conhecemos (ou não) como - reparando nos itálicos aspáticos- documentário, encenação, registro pesquisativo, road movie, filme de arte, drama, dramalhão artístico, música brega, enfim, em processo.

Portanto, seguimos em direção a filmes infinitos, que não possuem o dom do The end, Fim ou Ende. Aí percebe-se que tudo que tem um fim planejado já possui uma certa contradição ou ironia negativa, pois tendemos menos ao cronômetro do que à eternidade. Não é saudável os namoros de verão terem consciência do inverno, e isso é sintetizado neste filme no momento em que Tânia/Sónia Bandeira chora e ri na despedida do primo amante. É o fim: mas é agosto, é o sol, é a lua, é o ciclo, é o primo, é o amor. Ao mesmo tempo em que essa risada ambígua se apóia na linha divisória do mascaramento da encenação e do instante em que a garota se despe do ridículo latente à toda ficção e jogo. Não que Miguel Gomes, o diretor, tenha planejado esta quebra e posto tudo isso na montagem, mas seu mérito é menos falar e mais ouvir, abrir a estrutura do Cinema - com letra maiúscula, assim como Eduardo Coutinho, Wim Wenders ou Cassavetes, o fizeram cada um à sua maneira e momento - para que se contamine com seu próprio veneno, antecipando a preocupação do feiticeiro contra o próprio feitiço, mas sem evitá-lo, desmascarando-se, como se o que restasse no cinema de hoje fosse a autofagia.

Mas a fome é metafórica - me perdoem pela obviedade -, pois além de não ser um alimento real, o estômago está cheio. Ele pede alimento novo e fresco. A saturação da ficção acadêmica é demonstrada sem infantilidade no filme através do contraste e do limite entre a pesquisa e o que deveras entra para a parte ficcional, ou "o filme de verdade" como se espera ouvir por aí. É bastante curiosa a reação da platéia ao longo do filme, quando documentário e quando ficção esperta. É praticamente uma mudança de lados, de fazer e desfazer amigos, de brigar e trepar com a platéia através do aparato, do gênero e do ritmo. "É muito legal quando o filme começa de verdade", poderia dizer um desatento à crise subterrânea. Mas o importante é que essa volta ao filme "fácil" não é concessão, mas discussão originária desta tensão. Olhe a sobreposição de imagens, quando finalmente se encontram as personagens do filme, através do olhar do binóculo e de uma viagem quase metafísica entre o momento do "eu farei um filme" e "vocês fazem um filme". É a negação da necessidade de fronteiras, de desmistificar o cinema dizendo "não, cinema, você não é especial e deve ser quanto menos especializado, você já não apetece nossos olhos cansados". Como o amor de verão desfeito de Tânia, Aquele querido mês de agosto se despede da Amarra cinematográfica para depois reencontrá-la novamente, esperando dessa vez que esta esteja casada e com filhinhas-amarras lindas.

Pois então como que cuspidos de volta às ruas, o discreto grupo nadava em um espelho líquido, percebendo que podiam novamente se entorpecer. Afogaram-se lembrando dos langoliers de Fenda no tempo, criaturas em forma de almôndegas carnívoras que comiam o espaço-tempo, podendo comer as fronteiras, agora não mais linhas de cal, mas linhas imaginárias.






Aquele querido mês de agosto estreou na sexta, 14 de agosto em São Paulo, apenas na sala 3 do Reserva Cultural, sala de cinema que cospe verniz em homenagem às piscinas escondidas e aos náufragos pagantes.


.r

8.8.09

10 10110111 101 1


amor kernel, illegal share,
paroxismo,
a arte é um upload.