25.12.09
17.12.09
12.12.09
VIII. Os rebatedores
10.12.09
VII. Os rebatedores

O tableaux rebelde
O reflexo no espelho em cima da mesa onde figuras prototípicas conversam talvez seja o ponto de torque em que se baseie Imitation of life. Escondido como um Wally em meio ao tableaux intrigante que compõe a imagem, o caráter autônomo desse reflexo injustificado pela diegese, ao não necessitar de corpo presente para existir (a princípio achamos que é o reflexo da garota ruiva, mas logo percebemos que não o é, havendo confusão de direções), cria um efeito de estranhamento, sutil vertigem, que nos leva a considerar se aquele não seria o nosso próprio reflexo, do espectador detentor do ponto de vista.
Esta tele-visão, olhar à distância, nos desperta para o tubo catódico que veicula tais imagens, as imagens do videoclipe em sua constituição e construção. Para sublinhar tal olhar distanciado vemos através de um zoom que analisa a superfície da imagem denotando, por sua repetição, a tentativa de compreensão do que é visto. A repetição de instantes já "vistos", ou melhor dizendo, já "vividos" nas periferias da imagem instaura de vez o caráter reflexivo de mostração e demonstração de um pensamento em fluxo corroborado pela música. Este efeito produzido explicitamente na edição, portanto sem a espontaneidade do instante, permite que os acontecimentos encenados não se resumam a meros fatos, a meras narrativas, pois o zoom "pinça" potenciais plots que nunca se realizarão para, de fato, apreciá-los criticamente. Nesse ensaísmo a superfície se torna tecido infinito à costura do pensamento.

Nesse sentido, há a crítica subterrânea da totalização e banalização desse código dito clássico. Se fizermos uma comparação da repetição dos instantes do videoclipe através da edição com a montagem paralela de Griffith, podemos intuir uma busca pela Verdade tipicamente ocidental, na qual a própria "decupagem" dos "planos" (já questionável na medida em que o videoclipe trabalha em “zonas”) busca ver "tudo" da "melhor" maneira, de modo a esgotar seu significado, enterrando todas as conclusões formuladas por um espectador ativo. Trabalhando ironicamente esse esgotamento em direção à Verdade absoluta, o vídeo implode e explode a cada verso musical tal totalização: é impossível abarcar o mundo, ainda que repetindo incansavelmente meros 20 segundos de captação. A potência estética de Imitation of life vem dessa articulação referencial que passa da decupagem clássica e totalizante, ao american way of life, que da mesma maneira lapida a sociedade com limites bem delineados: o homem negro não deve tocar a mulher branca.
Podemos afirmar a partir dessa intuição um tratamento estético-político antiespetacular, no qual o ilusionismo das tramas e do discurso é completamente negado. A opacidade discursiva estaria ligada ainda ao desejo da Verdade - perseguida a todo instante pelo olhar pixelante -, mas no sentido de que esta, inefável, estaria sendo perdida e emulada por códigos sociais arcaicos ditados por uma indústria de costumes, de refrões musicais repetidos ao infinito por famílias patéticas.
Uma televisão rebelde e abissal é o que Imitation of life nos explode, sutilmente, na cara.
Videoclipe Imitation of life, da banda REM, dirigido por Garth Jennings, 2001, EUA.
8.12.09
VI. Os rebatedores
http://www.youtube.com/watch?v=-bnQYmmmyOM
Tango
Zbig Rybcynski
1980
Bom saber que sempre e em todo o lugar existem aqueles
Tango
Zbig Rybcynski
1980
Bom saber que sempre e em todo o lugar existem aqueles
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