Os dois. Logo de cara foram pra pizzaria, onde ele lhe falava sobre "sensações de época". Quando se está em algum lugar ou situação ou sentindo certo cheiro que te faz remeter a certa época.
Sim, de mussarela, isso mesmo.
Olhando a vitrine de oréganos ele exemplificou uma dessas sensações. Sempre que via um leão feito de pedra sentia-se na época em que sua irmã estudava no colégio esquisito e também confundia sua excursão de escola com um sítio misterioso. Um leão de pedra, só isso - estalando os dedos - e já estava em outro lugar. Ela ouvia e comentava muito colorida com o sorriso na atenção e a completa compreensão nos olhos.
23? Sim, à vista, obrigado.
Ela o interrompia como cócegas de piadas sobrepostas, contando sobre a vez em que numa noite de chuva ela olhara para um poste e só enxergara as gotas na faixa de luz. Ela concluira que era só nas noites que o céu não chovia, mas a luz dos postes que cuspia. Coisas de criança. "Coisas de criança", ambos pensaram silenciosamente durante o caminho de volta com a mussarela de 23 contos queimando na mão. Coisas de criança como a amizade flutuante. Eles perceberiam ali em silêncio que o verdadeiro sentido para tais palavras não eram explicáveis por adultos que cobravam 23 paus numa mussarela. A mussarela queimava-lhe os dedos e ele pensava que quando se definiam muitos sentidos para poucas coisas, essas simplesmente deixavam de existir. Cortaram o primeiro pedaço e engatilharam uma conversa sobre walkie-talkies. Eram amigos deveras, estritamente essa infinidade indefinível.
para preta.
.r
4 comentários:
Como é bom ler suas coisas.
uau
olha lá, eu postando como o du de novo!
a gente deve ter algum tipo de cordão umbilical internético
assinado: Cauê
A preta do suvaco preto agradece todos os dias de ter tido a chance de comer cachorro-quente e pão com geléia de uva com você.
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