25.11.11

Se somos crianças, verdadeiramente, e sabemos a existência do feitiço, não é de se espantar que consigamos inventar um contra-feitiço. Na brincadeira o que ocorre não é pouca coisa: é concedida uma qualidade àquela completa abstração das relações fantasmagóricas. A vida ocorre nesse espaço mínimo de subversão do desencantado em reencantado.

Se de certa forma dormir é estar preso num tempo passado que se repõe constantemente, o tempo do desperto é o qual vemos coincidir nele corpo e presença. O dorminhoco tem, portanto, sua presença arruinada ciclicamente. Não sendo nunca pleno é ora carcaça, ora conceito. É necessário localizar a fratura em que tal ciclo terrível se subverte. Tudo aponta para o contra-feitiço ensinado pela criança: tirar a força da fonte de fraqueza, criar presença a partir de nossa ausência consciente.

Se isso também não servir, como um vaso (e um prazo) espatifado no chão, buscaremos a porcelana seguinte.

• Atentar para a imagem dialética de Benjamin, que definiu seu teor como o de uma dialética na imobilidade. Há um jogo entre tempo passado e presente, dormir e despertar, antiprogressista, que busca dissipar –– justamente –– o encantamento deste monstro.

16.11.11

os vigias do fogo sob as cinzas

Ó, fantasmagoria
como nos devasta
seu poder de falsa natureza.

Ó, fantasmagoria
como devasta
nossa presença em relação a todas as coisas.

Ó, fantasmagoria
um desafio sem nada em troca:
–– devastaria a si mesma?

Talvez lhe ofereçamos uma cama
(que restitua todas as energias,
mas que seja também um leito de morte).

Pois se ainda queima algum fogo,
cuidaremos para que ele a evapore,
em justiça aos que perderam o tato.