20.2.12


lembrete: 
drama trágico
tragédia
vocabulário

12.2.12


Youth comes from afar, it is an ancestral might that gets renewed at every present. Every youth blossoms over the ruins of the youth that has preceded it. It is an infinite movement that, from ancient Greece to today’s Tunis, runs through every revolution, be it political or amorous. The first challenge of the power that tries to keep its control, it doesn’t matter which power it is, lies in taking that immemorial energy of the youth apart.

10.2.12

Desta vez não se ergueu de imediato. Ficou deitado de bruços, as pernas ligeiramente abertas e numa atitude quase serena, uma espécie de abjeta meditação. Ele teria que se levantar em algum momento, sabia disso, assim como toda a vida consiste em ter que se levantar mais cedo ou mais tarde, e depois ter que se deitar novamente mais cedo ou mais tarde depois de um tempo. E ele não estava propriamente exausto e não estava particularmente sem esperança e não temia especialmente ter que se levantar. Apenas lhe parecia que acidentalmente fora apanhado numa situação na qual o tempo e a natureza, não ele próprio, estavam enfeitiçados; estava servindo de brinquedo para uma corrente d'água que não ia a lugar algum, sob um dia que não acabaria em noite; quando ela terminasse iria vomitá-lo de volta ao mundo comparativamente seguro de onde havia sido violentamente arrancado e nesse meio tempo não importava muito o que fizesse ou deixasse de fazer. Então ele ficou de bruços, agora não só sentindo como também ouvindo, por mais algum tempo, o forte e silencioso rumorejo da correnteza sob as tábuas. [...]

WF, Palmeiras selvagens

9.2.12

SALA DE DESJEJUM

Uma tradição popular adverte contra contar sonhos, pela manhã, em jejum. O homem acordado, nesse estado, permanece ainda, de fato, no círculo de sortilégio do sonho. Ou seja: a ablução chama para dentro da luz apenas a superfície do corpo e suas funções motoras visíveis, enquanto, nas camadas mais profundas, mesmo durante o asseio matinal, a cinzenta penumbra onírica persiste e até se firma, na solidão da primeira hora desperta. Quem receia o contato com o dia, seja por medo aos homens, seja por amor ao recolhimento interior, não quer comer e desdenha o desjejum. Desse modo, evita a quebra entre mundo noturno e diurno. Uma precaução que só se legitima pela queima do sonho em concentrado trabalho matinal, quando não na prece, mas de outro modo conduz a uma mistura de ritmos vitais. Nessa disposição, o relato sobre sonhos é fatal, porque o homem, ainda conjurado pela metade ao mundo onírico, o trai em suas palavras e tem de contar com sua vingança. Dito modernamente: trai a si mesmo. Está emancipado da proteção da ingenuidade sonhadora e, ao tocar suas visões oníricas sem sobranceria, se entrega. Pois somente da outra margem, do dia claro, pode o sonho ser interpelado por recordação sobranceira. Esse além do sonho só é alcançável num asseio que é análogo à ablução, contudo inteiramente diferente dela. Passa pelo estômago. Quem está em jejum fala do sonho como se falasse de dentro do sono.


WB, Rua de mão única


4.2.12


 











ÁPORO

Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.


(Carlos Drummond de Andrade)