24.7.10



] desvio neutro silêncio selvagem morte idiota fragmento variação
contínua destecer viver segundo a nuance burlar dissolver tempo bruto
suspensão paradoxo violência invendável invisível sono desperto lento
atrasado passagem memória anestesia adjetiva surdez mudez talvez
[

E enquanto isso, seguimos junto à cerca até chegar à cerca do jardim, onde nossas sombras estavam.

.

15.7.10

100
%
olhar
morrer
nascer
poliéster

13.7.10




soçobrar desmiolado
em suas dobras




Unmade bed
, 1845, Adolph Menzel (1815-1905)

9.7.10

talvez talvez
definir um prazo
nunca nunca
cêrco puro e imundo
onde não se tem
experiência
talvez talvez
definir um prazo
nunca nunca
acabar com'eu meio-dia
onde não se tem
sol
talvez talvez
definir um prazo
nunca nunca
remando a fôrma do bolo
que ferve e fermenta
onde não se tem
gás
talvez talvez
denifir um prazo
nunca nunca
encostou um dedo
queimando em cortes
onde não se tem
desculpas
talvez talvez
denifir um prazo
nunca nunca
terminado com jeito
de última vez
onde não se tem
memória
talvez talvez
definir um prazo
nunca nunca
se desmanchando
em sol
em vez
em mol
em fim
um
idiota
cíclico

5.7.10

de olhos fechados / o tempo urge

"3.
..........O poeta - o contemporâneo - deve manter fixo o olhar no seu tempo. Mas o que vê quem vê o seu tempo, o sorriso demente do seu século? Neste ponto gostaria de lhes propor uma segunda definição da contemporaneidade: contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro. Todos os tempos são, para quem deles experimenta contemporaneidade, obscuros. Contemporâneo é, justamente, aquele que sabe ver esta obscuridade, que é capaz de escrever mergulhando a pena nas trevas do presente. Mas o que significa "ver as trevas", "perceber o escuro"?
..........Uma primeira resposta nos é sugerida pela neurofisiologia da visão. O que acontece quando nos encontramos num ambiente privado de luz, ou quando fechamos os olhos? O que é o escuro que então vemos? Os neurofisiologistas nos dizem que a ausência de luz desinibe uma série de células periféricas da retina, ditas precisamente off-cells, que entram em atividade e produzem aquela espécie particular de visão que chamamos o escuro. O escuro não é, portanto, um conceito privativo, a simples ausência da luz, algo como uma não-visão, mas o resultado das off-cells, um produto da nossa retina. Isso significa, se voltamos agora à nossa tese sobre o escuro da contemporaneidade, que perceber esse escuro não é uma forma de inércia ou de passividade, mas implica uma atividade e uma habilidade particular que, no nosso caso, equivalem a neutralizar as luzes que provêm da época para descobrir as suas trevas, o escuro especial, que não é, no entanto, separável daquelas luzes.
..........Pode dizer-se contemporâneo apenas quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue entrever nessas a parte da sombra, a sua íntima obscuridade. Com isso, todavia, ainda não respondemos a nossa pergunta. Por que conseguir perceber as trevas que provêm de sua época deveria nos interessar? Não é talvez o escuro uma experiência anônima e, por definição, impenetrável, algo que não está direcionado para nós e não pode, por isso, nos dizer respeito? Ao contrário, o contemporâneo é aquele que percebe o escuro de seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que toda luz, dirige-se direta e singularmente a ele. Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo.

4.
..........No firmamento que olhamos de noite, as estrelas resplandecem circundadas por uma densa treva. Uma vez que no universo há um número infinito de galáxias e de corpos luminosos, o escuro que vemos no céu é algo que, segundo os cientistas, necessita de uma explicação. É precisamente da explicação que a astrofísica contemporânea dá para esse escuro que gostaria agora de lhes falar. No universo em expansão, as galáxias mais remotas se distanciam de nós a uma velocidade tão grande que sua luz não consegue nos alcançar. Aquilo que percebemos como o escuro do céu é essa luz que viaja velocíssima até nós e, no entanto, não pode nos alcançar, porque as galáxias das quais provém se distanciam a uma velocidade superior àquela da luz.
..........Perceber no escuro do presente essa luz que procura nos alcançar e não pode fazê-lo, isso significa ser contemporâneo. Por isso os contemporâneos são raros. E por isso ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque significa ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas também perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual num compromisso ao qual se pode apenas faltar.
..........Por isso o presente que a contemporaneidade percebe tem as vértebras quebradas. O nosso tempo, o presente, não é, de fato, apenas o mais distante: não pode em nenhum caso nos alcançar. O seu dorso está fraturado, e nós nos mantemos exatamente no ponto da fratura. Por isso somos, apesar de tudo, contemporâneos a esse tempo. Compreendam bem que o compromisso que está em questão na contemporaneidade não tem lugar simplesmente no tempo cronológico: é, no tempo cronológico, algo que urge dentro deste e que o transforma. E essa urgência é a intempestividade, o anacronismo que nos permite apreender o nosso tempo na forma de um "muito cedo" que é, também, um "muito tarde", de um "já" que é, também, um "ainda não". E, do mesmo modo, reconhecer nas trevas do presente a luz que, sem poder nos alcançar, está perenemente em viagem até nós."

trecho de O que é o contemporâneo?, de Giorgio Agamben

2.7.10

Sexta-feira, 2 de julho de 2010

Querido diário,

Como eu era feliz na quarta-feira!
O vazio, em retrospecto na verdade foi um capelete cheio de queijo
ralado ao ventinho da janela tresloucada pelas persianas filtros-solares
na sala que repousava de jogos e jogos.
Prorrogações de sobremesa até o intervalo de Mistérios da Ciência,
emanavam a cosmologia da limpeza do quintal
das namoradinhas da infância
do inglês macarrônico de um sir cortado pelos comerciais
da correspondência que diz que agora sou feliz
com o novo cartão
que não pedi,
nem assinei
--- era feliz e não sabia.

E tudo começa a fazer sentido,
se há poesia, é porque há copas,
se existiram manueis e bandeiras,
é porque houveram impedimentos
verbais, finais.

Agora faço as malas para morrer em Amsterdã.

Não te escreverei.

Figuinhas.