28.9.10



(...) O objeto de nosso primeiro capítulo é mostrar que idealismo e realismo são duas teses igualmente excessivas, que é falso reduzir a matéria à representação que temos dela, falso também fazer da matéria algo que produziria em nós representações mas que seria de uma natureza diferente delas. A matéria, para nós, é um conjunto de "imagens". E por "imagem" entendemos uma certa existência que é mais do que aquilo que o idealista chama uma representação, porém menos do que aquilo que o realista chama uma coisa -- uma existência situada a meio caminho entre a "coisa" e a "representação".

(...) Eis as imagens exteriores, meu corpo, e finalmente as modificações causadas por meu corpo às imagens que o cercam. Percebo bem de que maneira as imagens exteriores influem sobre a imagem que chamo meu corpo: elas lhe transmitem movimento. E vejo também de que maneira este corpo influi sobre as imagens exteriores: ele lhes restitui movimento. Meu corpo é portanto, no conjunto do mundo material, uma imagem que atua como as outras imagens, recebendo e devolvendo movimento, com a única diferença, talvez, de que meu corpo parece escolher, em uma certa medida, a maneira de devolver o que recebe.

fragmentos do prefácio e do capítulo 1
(Da seleção das imagens para a representação. O papel do corpo)
em Matéria e memória, de Henri Bergson

26.9.10



firmamento
calcificação=imaginação
estruturação lenta
imagem de fundo=ruído de fundo : o que resta quando nada resta
mantra
natureza em gotas

19.9.10

12.9.10


(...) gozo do "fútil" (lat. fundo - que se derrama, que nada segura). Em suma, delicadeza: a análise (lýo* > desatar) que não serve para nada
* verbo grego que significa também "dissolver, resolver, explicar"

(...) Não "traços", "elementos", "componentes", mas o que brilha por clarões, em desordem, fugazmente, sucessivamente, no discurso "anedótico": tecido de anedotas do livro e da vida

(...) Arte = prática fina da diferença: não tratar os objetos do mesmo modo: tratar o aparentemente mesmo como diferente

(...) discernare

(...) eliminação de toda e qualquer repetição: a delicadeza horroriza-se, melindra-se com repisamentos

(...) a) Walter Benjamin, em Marselha, experimenta H; vai ao restaurante Basso e fica em dúvida diante de vários pratos: "não por gula, mas por expressa polidez para com os pratos, por medo de melindrá-los, recusando-os". b) Isto, que é uma viravolta admirável, por delicadeza = pois delicadeza doutrinal: doutrina Tao sobre a imortalidade do corpo (alma =/= corpo: dicotomia ocidental): é o corpo que deve ser imortal. Imortalidade: conservação do corpo vivo. Ao longo da vida, é preciso ir substituindo o corpo mortal por um corpo imortal, fazendo nascer em si órgãos imortais que substituem os órgãos mortais. No entanto, desmentido imediato dos fatos: evidente que todos morrem. "Para não causar perturbação na sociedade humana em que a morte é um acontecimento normal, quem se tornava imortal fingia ter morrido e era enterrado normalmente: o que se punha na urna funerária era uma espada ou um cajado ao qual ele dera aparência de cadáver; o verdadeiro corpo partira para viver entre os Imortais = "a Libertação do Cadáver". Admirável consideração pelos outros, delicadeza pura: fazer de conta que morreu para não chocar, ferir, embaraçar os que morrem

(...) destacar um traço e fazê-lo proliferar em linguagem (...) a língua cria o real; quem escolhe sua língua escolhe sua realidade

(...) Princípio de delicadeza: interstício absoluto do conformismo e da moda

(...) Esse estado amoroso "afastado" do querer-agarrar pode gerar todo um complexo de valores-sensações que os japoneses (sobretudo no que se refere ao haicai e ao Zen) chamaram de sabi: "simplicidade, naturalidade, não-conformismo, refinamento, liberdade, familiaridade estranhamente mitigada com desinteresse, banalidade cotidiana requintadamente velada de interioridade transcendental"

fragmentos acerca da figura Delicadeza em O neutro, de Roland Barthes.

vaga pendente


6.9.10


A paleta não é uma questão do olhar, mas da pulsão das mãos.
São cores de um espectro interior, extensão do corpo que anima a máquina.
Se passa pelos olhos é porque choramos por ela.
Se passa pelas mãos é porque nela podemos fazer cócegas.
As imagens são precipitados de lágrima e riso,
adormecidas.

4.9.10

guia um: Precipício delicado

os dorminhocos
Escaner. Folha fina. Rastreamento lento. |||||]|||||||
 sobre lançar luz
lançar luz sob
subterraneamente
emergindo as pedras lançadas no rio,
soçobrando o que cair de nossos olhos
que se afogam em olhares
que carregam imagens-âncora
lançadas no precipício de luz
sobre
sob
subluminescente,
escuridão de bordas sonoras