26.5.08

Opening Night - Cassavetes - 1977



Aquela mulher dupla
não quis se levantar. Ninguém soube o motivo e agora estamos todos histéricos a ponto de não percebermos que o que queríamos desde o começo era ela mesma.

Flutuando em silêncio existia uma aura desconcertante. Chegava a todas as superfícies táteis e vulcânicas já entupidas de tantas viagens. Quando era jovem tudo estava tão à flor da pele. E hoje a mulher dupla não quis se levantar, mas se levantou e cortou a realidade em dois pedaços disformes: palco e platéia.



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23.5.08

Faces - John Cassavetes - 1968




O primeiro cinema 3D. A tela vai tombando como um papelão escorado na nossa descrença. O amor como essência cresce nos colocando debaixo de sua sombra cada vez maior. Vulnerável. Um doce estatelado. Dê-nos um cigarro.


cofcofcof.


Olhos variáveis, corações rolando escada abaixo. Trava-língua. Trava-cardíaca. A tela nos esmaga. Doce estatelado. Chore, a vida é assim. Café?




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Do intervalo ou encarnação



"O fato é que, nas vizinhanças de um poleiro d'almas, o que ocorre é nada, nada por todos os lados, uma infinidade de nada inimaginável em toda sua inextensão. Nada e mais nada e mais nada e mais nada ali se vai aglomerando, até o ponto em que se acumula tanto nada que ele se transmuta num nada crítico e desta maneira surge algo desse nada."




de Viva o povo brasileiro, João Ubaldo Ribeiro

22.5.08

Lixo orgânico

Batida de pé. Pés, um monte deles calçados ruidosamente como madeiras incomportadas. Ritmo de guerra, de fluxo e linha dançante. Cachos macios na testa ventando de um lado a outro das sombrancelhas sisudas, puxadas provavelmente da mãe. As mãos vão tornando-se independentes dos punhos pesados. Em seguida os punhos voam levemente com asas feitas de mãos e unhas de pluma. Os poros pululam em ondas de pés que batem ruidosamente num fluxo harmonioso que incomoda pela simetria. Sinestesia. A noite destrói o dia, diziam os portas. Ela ela ela ela ela elas ela ell ela ela kel lale alw ekake ake akel a els el ela elal elwla 3la le3 l Analfabeto anestésico. Não sente nada do que sentem, nada do que está por aí flutuando. Mesmo sem qualidade ainda há sen-- sensações em meus textos--? Não há? Não estou sentindo meus pés, o que está acontecendo? O chão não bate mais do que eu possa sentir. O que há com meus pés sinestésicos que de cócegas sempre desmaiavam num sonho ainda mais explosivo e menos qualitativo. Não há qualidade, eu já sabia, mas o que não é de marca também agrada aos mais distraídos. Vamos lá: Era uma vez um garoto que não sentia os pés quando andava. Um dia sua avó o perguntou por que estaria ele voando e não andando pela sala de estar no meio de todas as visitas. Ele respondeu a avó que queria testar o teto desta vez, mas lá também não sentia os pés novamente. Não há final, e todos esperarão um, dois, três dias por um final que jamais existirá, mas que ainda assim fará todos esperarem mais duas, três semanas, não pelo prazer, mas pelo simples final, arquivo mental e desapego cardíaco. Não haverá final, jogarei tomates em vocês, vamos, saiam daqui! Vamos lá: Ele respondeu ao avô que quando se apaixonou voltou a sentir seus pés. Fim. Fechado numa caixa, avisei a vocês, não aceitamos devoluções, revisões. Só no impulso circense isso aqui funciona, não há dúvidas que é de gosto duvidoso, mas ele tem gosto e é isso que importa. Pegue um estilete e corte o ar em dois. Entre dentro dele e respire um pouco, ande ouvindo o vento e não The Winds, pise na terra, puta merda. Próximo pacote aleatório. Não há revisão para literatura barata, muito menos garantiremos qualquer coisa a não ser nossa incrível incapacidade. Podemos fazer tudo. Agora só precisamos de linha, agulha e um psiquiatra.


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