30.4.11


Palavra do dia: contato.

Como uma evidência no corpo (porque agora tudo são evidências).
Não há coisa mais bela do que presenciar uma diferenciação.
É ver o corpo neutro desviando de seu curso, assim quase sem saber.
Aparentemente o processo de percepção do movimento (mudança) é muito mais interessante do que o processo da inércia (curso). Talvez porque neste já saibamos alguma coisa, e no outro descobrimos que não sabemos tanto assim. 
Por isso é tão bela esta pintura, é o momento epifânico do contato, aquele oh tão silencioso que só se passa em nossos corações, então é assim.


O que me parece interessante aqui é testar o contrário, presenciar frequentemente a indiferenciação, a volta ao estado neutro, até que... (como em uma fábula).





29.4.11


Palavra do dia: cifrada.
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Como "emboscada" - uma "cifrada" (com um gesto).
Um código muito cifrado, que poucos entendem: cuidado ao cifrar para não emboscar a si mesmo.
Porque emboscar a si mesmo é desagradável, pois não se sente necessária a fuga, nem o confronto, é apenas um abraço oco e solitário.
Não existe a Cifra, mas cifras (porque agora pra mim esta construção da caixa alta-baixa vale para qualquer coisa). 

Portanto não existe o segredo a ser desvelado, mas emboscadas singulares, ou melhor ainda, como Spinoza diz, encontros alegres.
Imagine então esses mil contatos de um corpo cifrado, um braile gostoso, um baile sutil.


27.4.11


Palavra do dia: melíflua.
Que flui como o mel, doce.
Corpos melífluos (porque agora pra mim tudo são corpos).
Avalanche densa.






























Obra permanente

Talvez uma galeria não com obras, mas em obras permanentes.
Talvez sua própria obra seja não a obra das obras, mas as obras em si - os artistas como pedreiros loucos.
Digo, talvez a questão seja bastante boba, até hoje só uma questão de respeito às paredes e à estrutura.
Evidentemente que o dono da galeria deva também ser um louco, pois significaria trabalhar em uma estrutura que se desestrutura como necessidade. Sua morte seria terminar a construção e por fim se tornar galeria, o projeto temido pelos artistas que teriam, então, de arranjar outro trabalho, desta vez o da pintura de interiores.



22.4.11


Falar para crianças.


17.4.11



Isto é isto.
Tautologia variada / Variação tautológica
Como uma aula que perde o controle.


16.4.11







Os homens preferem a ordenação à confusão, como se a ordenação fosse algo que, independentemente da nossa imaginação, existisse na Natureza. - Spinoza, Ética.

Tautologia: Todos precisam dormir.
Desde sempre; portanto, é nossa máquina do tempo ao passado primitivo, mas também ao futuro.
Dormir como refrão do homem. Zona neutra e indiferenciada. O neutro como indiferenciação.

Dizer sempre a mesma coisa em termos diferentes. Tautó.

Porque criar compreensão é seguir mais e mais, sem fim e finalidade (a não ser viver melhor, o grande parênteses humano).



5.4.11


Recomeçar pelo básico: apontando lá para fora eu vejo alguma coisa.
Ainda veremos o que não vemos. Eis um novo mantra.
Ainda veremos... soma-se ao nunca arcaico Mas ainda assim...
Nada como ser professor e aluno de si mesmo; o método poderia ser definido também como teimosia.
Teimosia em achar que não há verdade nenhuma além daquela que vai parecer a mais importante para si mesmo. A mais afetiva. A mais efetiva. Apontar a câmera para lá, essa besta programada que me traz um bruto, RAW linguístico que me condena à interpretação, ao aprendizado de que aquilo é um mapa que não leva a lugar algum a não ser que eu invente um lugar para este mapa inútil. A imagem como mapa inútil. Ao mesmo tempo em que há um deslumbre um pouco bobo, que baba um pouco, pela condição da câmera, que se vê envolta de um mar de sentidos possíveis, mas ainda assim sobrevive pura e burra. Puramente estúpida.
Nada como um professor tolo para ensinar as melhores lições.
Se fosse possível apenas re-começar... Fazer imagens como um cachorro que persegue sua própria calda. Mesmice originária em movimento.
Pelo básico do básico, então, apontamos a câmera para lá, mas sempre e sempre nunca básico o suficiente. Será este nosso maior defeito, portanto façamos dele a maior virtude. Formado por um mestre estúpido, nos tornamos mancos, e pulamos cada vez mais alto - lá fora.
Estou em casa - o maior cenário possível.

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2.4.11

Um ouvido que mal interpreta. Quanta coisa. 
Lorraine tem em sua essência a chuva. 
Sempre voltamos à chuva (?). 
Quanta coisa. Multidão de sapateados líquidos.


I was talkin' to Chuck in his Genghis Khan suit
and his wizard's hat
He spoke of his movie and how he was makin'
a new sound track

And then we spoke of kids on the coast
and different types of organic soap
And the way suicides don't leave notes
Then we spoke of Lorraine
always back to Lorraine

I was speakin' to Phil who was given to pills
and small racing cars
He had given them up since his last crack-up
had carried him too far

Then we spoke of the movies and verse
and the way an actress held her purse
And the way life at times can get worse
Then we spoke of Lorraine
always back to Lorraine

Ah, she's a wild child
and nobody can get at her
She's a wild child
oh, and nobody can get to her

Sleepin' out on the street
Oh, livin' all alone
without a house or a home
and then she asked you, please
hey, baby, can I have some spare change
Oh, can I break your heart?

She's a wild child, she's a wild child

I was talkin' to Betty about her auditions
how they made her ill
But life is the theater, is certainly fraught
with many spills and chills

But she'd come down after some wine
which is what happens most of the time
Then we sat and both spoke in rhymes
Till we spoke of Lorraine
ah, always back to Lorraine

I was talking to Ed who'd been reported dead
by mutual friends
He thought it was funny that I had no money
to spend on him

So we both shared a piece of sweet cheese
and sang of our lives and our dreams
And how things can come apart at the seams
And we talk of Lorraine
always back to Lorraine

She's a wild child
oh, and nobody can get at her
She's a wild child
oh, and nobody can get to her

Sleepin' out on the street
Oh, livin' all alone
without a house or a home
and then she asked you, please,
oh, baby, can I have some spare change
Now can I break your heart?"

She's a wild child, she's a wild child




Wild child, no disco Lou Reed, 1972