8.2.09

revisãoabc espiritismo reciclável


o lixo se recicla, isso já é muito difundido, principalmente para a juventude. Dá pra se tirar muita coisa dele, inclusive seu futuro lixo. Com o tempo essas coisas todas viram um lixo filosófico, reencarnado com uma maldade esquisita. De onde viria isso? Do homem ou da idéia que o homem tem do lixo? Não interessa, realmente, pois é uma questão desimportante, mas a questão não seria bem essa, seria algo mais categórico e tãoquãomente tão retórico quanto uma embalagem de bombons: "qual o sentido da vida?"

Reciclando se reencarna, ensinam isso. Mas o que vem e o que vai, em que direção e a força com que pode ir? Porque não reciclam as coisas que não se podem triturar? Então com muita calma se pergunta uma pergunta inverossímel e passível: "qual o sentido? Da vida?"

"Lembrar de separar recicláveis". Colado na geladeira, como um manifesto da higiene mental, estampado bem direitinho pra não dar indigestão moral. Bota lá "Qual o sentido da vida. Conferir na segunda-feira". Aí sim começamos a cozinha pelo lado menos bom e menos mau. Azulejo quadradinho, delimitado. "Terça-feira. Pesquisar 'qual o sentido da vida?"

Com o tempo a pergunta vai deixando de dar tremedeira e aí se pode reciclar e separar as coisas em cores.


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gosmagosma tocou a campainha


Da série textos que vão pro lixo

zing zing, tocou alto. Foi ver e era um monstro horrível. Deixou entrar e ofereceu o almoço pegando o chapéu e botando na chapeleira. Quanto ódio e raiva, não dava pra explicar falando apesar disso poder ser dito. Sentado a mesa o monstro disse coisas que não deveriam ser ditas a mesa, com gosma escorrendo:
- Não existe mais um pingo de resquício de desprezo ou adoração por você. Só resta a indiferença, essa morte implacável que destruiu meus jantares e noites com anestesia grave. Não há mais nada e isso é tudo que não posso deixar que escorra dessa gosma. Você não existe mais, assim como essa cadeira, um amor tão seco que nem se chama assim, se chama "ter", se chama "poder". É um monólogo desconexo, pois você não existe mais que essa porta. Que morte implacável, deus meu, me permita ser triste por você? Um pouco?

Então ela serviu o prato. Mas aí ela já não existia mais.

gosmagosma fluindo, descendo pra onde não se sabe e onde não se diz. Que mistério é esse, seu deus filho da puta?, pensou.


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atrapaçaatropelolixolixobamgbamgbostaagosma


ratos de sapatos atravessam a rua calmamente em busca do endereço certo pra entrevista do emprego novo que fará com que comprem novas sandálias para as ratinhas que aguardam na toca um amor de verdade que não virá pois ele circula por aí em busca de coisa solta e simples como o faról que não tem muito segredo além de parar avisar e deixar ir aqueles que querem chegar independente dos pedestres de sapato com rato atropelado e morto ali mesmo antes de saber se tinha conseguido a bosta do emprego que sustentaria sonhos que não se moverão nunca até que os faróis sejam algo além de símbolos ratos trêscolores que piscam e piscam até que algo surja como um atropelo de ódio e amor


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