27.2.11

 
(...) Vai levar um longo tempo até que as pessoas compreendam que, se suas necessidades são formuladas por critérios funcionais, então qualquer coisa que se faça, seja política ou apolítica, será mais vital. Nesse interim, a disparidade entre o desejo de satisfazer necessidades e os métodos disponíveis para tanto produz conflitos. Essa é a razão pela qual eu jamais endossaria um programa político ou econômico, mas sim programas vocacionais ou profissionais.



23.2.11


Primitive project.
Hmmm, eis um belo formato:
contaminante, constante.
Reunir sob um mesmo nome

20.2.11


Os que procuram repouso. -- Reconheço os espíritos que buscam repouso pelos muitos objetos escuros de que se rodeiam: quem quer dormir, torna seu quarto escuro ou entra numa caverna. -- Uma indicação para aqueles que não sabem realmente o que mais buscam, e gostariam de sabê-lo!
aforismo 164, livro III, A Gaia Ciência, Friedrich Nietzsche






Pegar a flecha do chão e lançá-la adiante.
Esse meu dormir não é um desejo - ó mas que triste - mas uma necessidade. Algo está acontecendo no fundo de minha memória, algo muito profundo, mas tão alegre!, algo muito complexo, mas tão simples!
Tudo então será apenas - ó mas quanta coisa - o movimento de traduzir da maneira mais precisa esta fumaça, de transformar a fumaça em pedra, e isto será meu signo, minha responsabilidade, minha cria que virá tanto mais por mim, tanto apenas por mim que agora vejo que não há arte que me interesse que não aquela medicinal, que cure. Mas estou perdendo a batalha, não sei em que língua traduzir esse hieróglifo sensorial, para que ele seja conciso como uma pedra polida. O tempo está passando e me contamino com outras línguas: como isolar essa fumaça imprecisa e pressioná-la até que com meu recipiente tempo-espacial a capture e permita que vire fumaça novamente, mas dessa vez no sentido inverso, desviado para dentro do outro? Quais objetos escuros me servirão? O que devo abandonar?

A resposta está na ponta da língua, 
mas um abismo separa a lembrança de dizê-la
e a queda destas palavras no mundo.
Onde está você?, rodeia o corpo no escuro,
sei que está perto, mas estaria tão perto assim quanto eu temeria? 

Os dorminhocos ou nascem, ou morrem: ultimato.


12.2.11

sono três: o encontro alegre na rádio pirata




5.2.11


(...) One's mind and the earth are in a constant state of erosion, mental rivers wear away abstract banks, brain waves undermine cliffs of thought, ideas decompose into stones of unknowing, and conceptual crystallizations break apart into deposits of gritty reason. (...)




trecho do texto A sedimentation of the mind: Earth projects, de Robert Smithson
fotografia aérea/mapa para Non-Site, 1968
leste oeste
pé cabeça
lua sol
terra água

beijo cuspe
acordar dormir
como se fôssemos muito longe para nos tornarmos fósseis
um não-lugar é um lugar na memória e mais ainda no esquecimento, como se este fosse um recipiente.
quero esquecer algo de que não me lembro, voltar ao lugar que não existe: marco um X no mapa, precisamente onde está em branco, coordenadas brancas, vento branco. Navego até lá, e de lá retorno meus olhos ao mapa e todo o restante, agora, precisa ser recoordenado.

Blanchot, em algum lugar diz: Quem quer se lembrar deve confiar no esquecimento arriscando-se ao esquecimento absoluto e esse belo acaso torna-se a lembrança.



4.2.11


Diferença quase despercebida entre descobrir e inventar. Descobrir é uma linha reta que leva inexoravelmente a alguma coisa, hoje ou amanhã. Inventar é um círculo que existe ou agora ou nunca. Descobrir mora no mundo a ser desvelado. Inventar mora na tensão entre algum lugar e lugar nenhum.

Inventar nos tensiona em potência, nos coloca em um abismo, e este abismo ou somos nós, ou não é nada, portanto é viver. A radicalidade extrema do artista está no silêncio elétrico das coisas: crie o impossível e haverá ainda mais e mais.