20.2.11


Os que procuram repouso. -- Reconheço os espíritos que buscam repouso pelos muitos objetos escuros de que se rodeiam: quem quer dormir, torna seu quarto escuro ou entra numa caverna. -- Uma indicação para aqueles que não sabem realmente o que mais buscam, e gostariam de sabê-lo!
aforismo 164, livro III, A Gaia Ciência, Friedrich Nietzsche






Pegar a flecha do chão e lançá-la adiante.
Esse meu dormir não é um desejo - ó mas que triste - mas uma necessidade. Algo está acontecendo no fundo de minha memória, algo muito profundo, mas tão alegre!, algo muito complexo, mas tão simples!
Tudo então será apenas - ó mas quanta coisa - o movimento de traduzir da maneira mais precisa esta fumaça, de transformar a fumaça em pedra, e isto será meu signo, minha responsabilidade, minha cria que virá tanto mais por mim, tanto apenas por mim que agora vejo que não há arte que me interesse que não aquela medicinal, que cure. Mas estou perdendo a batalha, não sei em que língua traduzir esse hieróglifo sensorial, para que ele seja conciso como uma pedra polida. O tempo está passando e me contamino com outras línguas: como isolar essa fumaça imprecisa e pressioná-la até que com meu recipiente tempo-espacial a capture e permita que vire fumaça novamente, mas dessa vez no sentido inverso, desviado para dentro do outro? Quais objetos escuros me servirão? O que devo abandonar?

A resposta está na ponta da língua, 
mas um abismo separa a lembrança de dizê-la
e a queda destas palavras no mundo.
Onde está você?, rodeia o corpo no escuro,
sei que está perto, mas estaria tão perto assim quanto eu temeria? 

Os dorminhocos ou nascem, ou morrem: ultimato.


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