17.1.12

O espetáculo em Numa sessão de hipnotismo (Tchékhov, 1883) lembra a decupagem de Bresson em Pickpocket. Além disso há nuances nas coisas secundárias, como os médicos que examinam o hipnotizado, sustentando a ambiguidade dos veredictos (eles também seriam comprados pelo hipnotizador ou o dinheiro realmente alterou os batimentos, a temperatura e a pressão do hipnotizado?). Paralelo indireto com Low life e a história dos médicos que examinam o garoto africano e redeterminam sua idade pelo tamanho dos ossos. Isso leva o garoto a um sono desesperador. Em Tchékhov quando o braço rígido se estende alguém na plateia grita –– Bravo! Como o de um cadáver! Eis a força do conto: não só ver o sono dos outros, mas fazer ver os mesmos dormindo por motivo idêntico ao do coletivo. Coloca-se, exemplarmente, a questão do sono coletivo a partir de pequenos sonos.

Os senhores têm os fatos, e eu, duas notas de cinco rublos.

Uma grande lição a se tirar: o sono recai nas pequenas cenas, e nelas revela sua onipresença. Não é à toa que hipnose e dinheiro estejam ligados intrinsecamente não apenas aqui como também, de maneira implícita, n'A mulher do farmacêutico. Mais uma vez, o todo pela parte.

(Não desconsiderar a ironia final, do fato do hipnotizador ser o mais íntegro entre os protagonistas; sua hipnose é manipulação do outro, sim, mas explicitada aos olhos da plateia, tornando-se, ironicamente, antiespetacular). Dialética.

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