10.2.12

Desta vez não se ergueu de imediato. Ficou deitado de bruços, as pernas ligeiramente abertas e numa atitude quase serena, uma espécie de abjeta meditação. Ele teria que se levantar em algum momento, sabia disso, assim como toda a vida consiste em ter que se levantar mais cedo ou mais tarde, e depois ter que se deitar novamente mais cedo ou mais tarde depois de um tempo. E ele não estava propriamente exausto e não estava particularmente sem esperança e não temia especialmente ter que se levantar. Apenas lhe parecia que acidentalmente fora apanhado numa situação na qual o tempo e a natureza, não ele próprio, estavam enfeitiçados; estava servindo de brinquedo para uma corrente d'água que não ia a lugar algum, sob um dia que não acabaria em noite; quando ela terminasse iria vomitá-lo de volta ao mundo comparativamente seguro de onde havia sido violentamente arrancado e nesse meio tempo não importava muito o que fizesse ou deixasse de fazer. Então ele ficou de bruços, agora não só sentindo como também ouvindo, por mais algum tempo, o forte e silencioso rumorejo da correnteza sob as tábuas. [...]

WF, Palmeiras selvagens

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