31.8.10


(...) " Rumo a uma estética do desaparecimento

Tudo o que acabamos de "ver" do campo fotográfico depende mais de saberes como a teologia, as ciências positivistas, a medicina legal ou a criminologia, bem mais do que da fotografia propriamente dita; tudo isso acaba, todavia, por apresentar uma imagem da fotografia que procede de uma espécie de estética do desaparecimento e do apagamento, que vai com força contra essa concepção difundida demais segundo a qual a fotografia seria um ápice do real, um excesso de singularidade existencial, uma pura manifestação do visível imediato, em suma, dependeria de uma estética da presença irresistível do real e da inscrição do referente. Ao abordar o campo por intermédio de seus objetos mortíferos, os efeitos de ausência e de ficção do meio revelam-se com insistência, transformando ao mesmo tempo o sujeito, o objeto e a relação que os une (que se chama percepção, descrição ou interpretação) em instâncias e processos imaginários, regidos em primeiro lugar por uma lógica do fantasma (ou da crença) e instituindo uma estrutura flutuante, sem termos determinados, onde simplesmente isso circula. Trata-se, em suma, de um olhar (vídeo), de uma pulsão escópica, de uma força do ver, que institui o não ser, isto é, que dilui o objeto (descrito) e o sujeito (que vê), impedindo dessa maneira qualquer consistência do pensamento (cogito) a ponto de não subsistir mais do que um simples jogo de vaivém, um movimento puro, uma ficção, um tráfego fantás(má)tico que gira infinitamente e literalmente no vazio. Video ergo non sum. "

O corpo e seus fantasmas, em O ato fotográfico, de Phillipe Dubois


fotos de Denis Roche:
20 de abril, 1979, Paris, rua Henri-Barbusse
15 de setembro, 1986, Viena, Autriche

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