18.6.11

Hoje vi um desenho, e ele era incrível. Existia uma máquina com alavanca de liga e desliga para a imaginação. E era preciso desligá-la, pois só se conseguia imaginar coisas muito perigosas, como lava, facas e monstros. E eles ficam lá lutando contra essas coisas invisíveis em plena sala de estar. Estar. É de fato um desenho psicodélico, ele coloca silêncios e presença nas coisas e no fundo é esse o tema dele, a aventura, não é à toa que chama Hora de aventura. É um tempo pra isso e nada mais, e o melhor é que a aventura é meio que desprovida de lógica e por isso não tem muita finalidade. No momento "em que não há mais volta" (frase recorrente nas referências atuais) um deles diz –– Eu estava me divertindo com minha imaginação... e de repente tudo ficou intenso.

Talvez seja o primeiro desenho hippie que conheci, e que coloca o corpo dos seres no centro. Me faz lembrar das coisas que o Benjamin escreveu sobre desenhos animados, ou o Adorno, já não lembro mais, provavelmente este, quando diz que os desenhos que explodem, amassam, cortam, são algo como uma anestesia praquele que assiste, como se fizesse fluir um desejo subterrâneo de caos e violência. Nesse caso da imaginação, dos tempos mortos e do vazio (acho que até daria pra dizer antiespetacular, por mais infantil que soe, neste caso é perfeito) me parece que eles emulam outra coisa, talvez o ato de criação. Porque tudo parece possível, e já não existe expectativa em relação às coisas que eles fazem, pois as ações são sempre oblíquas (como o desvio no caminho por uma parede invisível), no limite do absurdo, "mas ainda assim" (outra recorrência) a criação dos gestos sempre carrega um peso da necessidade, ainda que injustificada. Uma coisa que reli no Aleph do Borges, porque estava grifado (o que torna esse tipo de frase uma recorrência em nossas vidas, pelo simples pinçar do grafite): Compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia; estava na invenção de razões para que a poesia fosse admirável.

Talvez seja nesse ponto que deva surgir a questão: isso tornou-se belo, isso tornou-se necessário. Não foi sempre assim, portanto também é uma invenção, juntamente com a obra.

Por que ativar a imaginação? Por que puxar a alavanca pra cima? 
(surge um botão de hiper atividade –– Eu tô imaginando uma porção de coisas)
Melhor ainda –– como destruir a alavanca? Imaginando-a destruída?
(eles tentam isso, mas –– Não consigo, minha imaginação é sinistra demais!)

 
Como imaginar o que nos é necessário? Como nos livrar da lava que nos derrete e aprisiona?
Ao que parece (recorrências...) é preciso chegar ao limite do real e do não-real, daquilo que ainda não se realizou, no devir das coisas, pra que elas comecem a ressurgir das cinzas, como uma fênix. Pé no paradoxo, o amor parece existir aí igualmente, entre a dor e o prazer, a questão de sempre: não vamos aceitar isso como natural, vamos criar novos modos de vida, novos modos de amar.


Hora de aventura, o episódio chama Sonho de dia chuvoso, que deve ter um pé lá em Shakespeare.

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