Dormir: movimento e imobilidade, positivos e negativos, ao mesmo tempo.
Convergência de imagens opostas:
[...] a estrela fixa macunaímica é a verdade do seu movimento pendular, na medida em que a movência infinitamente irrequieta das ambivalências configura algo como um movimento - imóvel, espécie de fastidioso retorno do mesmo em que tudo se mexe mas nada sai do lugar. A fixação última de Macunaíma em estrela, assim, ao mesmo tempo ultrapassa o pêndulo das ambivalências e lhe reenceta o vaivém - oferecendo-nos algo como uma síntese que não supera ou, com licença da expressão, uma síntese negativa, que ao se produzir nos devolve ao movimento contraditório de base.
(Pasta, p. 138)
A marca histórica das imagens não indica apenas que elas pertencem a
uma época determinada, indica sobretudo que elas só chegam à legibilidade
numa época determinada. E o fato de chegar "à legibilidade" representa
certamente um ponto crítico determinado no movimento que as anima. Cada
presente é determinado pelas imagens que são síncronas com ele; cada
Agora é o Agora de uma recognoscibilidade determinada. Com ele, a
verdade é carregada de tempo até explodir. (Essa explosão, e nada mais, é
a morte da intentio, que coincide com o nascimento do verdadeiro tempo
histórico, do tempo da verdade.) Não cabe dizer que o passado ilumina o
presente ou o presente ilumina o passado. Uma imagem, ao contrário, é
aquilo no qual o Pretérito encontra o Agora num relâmpago para formar
uma constelação. Em outras palavras: a imagem é a dialética em suspensão.
Pois, enquanto a relação do presente com o passado é puramente
temporal, a relação do Pretérito com o Agora é dialética: não é de
natureza temporal, mas de natureza imagética. Somente as imagens
dialéticas são imagens autenticamente históricas, isto é, não arcaicas. A
imagem que é lida –– quero dizer, a imagem no Agora da
recognoscibilidade –– traz no mais alto grau a marca do momento crítico, perigoso, que subjaz a toda leitura.
(Walter Benjamin, p. 505)
Quando uma obra consegue reconhecer o elemento mítico e memorativo do qual procede para ultrapassá-lo, quando consegue reconhecer o elemento presente do qual participa para ultapassá-lo, então ela se torna uma "imagem autêntica" no sentido de Benjamin.
(Huberman, p. 193)
Se de certa forma dormir é estar preso num tempo passado que se repõe, o tempo do desperto é a coincidência entre História, corpo e
presença. O dorminhoco tem, portanto, sua presença arruinada
ciclicamente. Não sendo nunca pleno é ora carcaça, ora conceito. É
necessário localizar a fratura implícita na qual tal ciclo terrível se interrompe; é preciso que a fratura boie na superfície.
Para isso é preciso alterar as densidades.