A nuca silenciosa e elegante da garota do banco da frente também percebera. De tão elegante foi natural ao olhar e desviar o olhar para a janela. Desenhara até então no seu bloco de notas artístico.
Os três, ainda não-patetas, vêm direto como uma bala para o fundo, nas últimas cadeiras lotadas e ficam de pé entre a nuca desenhista e eu. Eles falam alto, eles riem alto. Eles jogam um jogo desdivertido no qual só bobagens pulam e desagradam aos ouvidos do rush. hahahaHaHaHaHAHAHA. Sem nexo pra soar engraçado, risadas fáceis que riem quando não precisam rir, riem da imprecisão do todo.
Pronto, ela guardou o caderno, sabia que ela não havia de gostar (ou seria: não gostaria?). Elegância sexy, como uma linha (isso não deve ter o menor sentido), olhou pra fora como se dissesse que lá fora era melhor, seria melhor, mais poluído, mas melhor e sem três patetas, sim! agora já os sei, já os sabemos.
HahaHahaHA! Secos e desconexos (de novo, droga) e descontrolados. A vergonha encarnou na pessoa errada e dessa vez eu olho pra fora, caramba, lá fora é realmente melhor e mais poluído. Que vexame desses daqui.
O tempo amacia a convivência, anestesia certos aspectos e aflora outros. Já nem ouço a campainha e o sinal mudo da gente lá de fora. Já estou dentro do jogo deles, caramba, caramba, isso pode ser engraçado, ha-ha.
No reflexo do vidro dá pra ver a nuca silenciosa de perfil e o momento do mais puro reflexo do dentro e reflexo da cócega que trai a sisudez senso comum: Ela ri.
Ela riu, deu risada incontida tão sonora que ninguém ouviu, afinal todos pulam com os olhos e ouvidos lá pra fora que é mais legal e poluído. Eu rio no mesmo momento, não dá pra segurar, hahaha, são três patetas e mais dois.
Ela riu olhando pra fora pra ninguém ver.
Ou seria pra todo mundo lá de fora olhar acá pra dentro e dizer sem dizer: "Lá dentro é mais legal e menos poluído."
.r