17.11.07

Onde não ir quando não se tem o que fazer

Esses dias fui ver uma corrida ideológica. Tinha um bocado de gente, muita gente estranha na largada. Tinha uma fita bem frágil que ninguém podia ultrapassar antes do tiro da largada e como tinha um bocado de gente que se empurrava, os estranhos da frente se botavam na ponta dos pés quase sufocados pela fita.

Todos ali pareciam competitivos, mas já mostravam uma pré-decepção de uma possível derrota e por isso mesmo todos já estavam demasiadamente raivosos e cansados do porque perderiam. Depois que fui comprar sorvete e voltei, percebi que a partir dos concorrentes do meio espalhava-se uma onda invisível de reflexão introspectiva para todo o resto dos corredores que cheirava como fumaça. Aí percebi que os caras que entregam copos d'água no percurso já iam percebendo sua inutilidade e seguiam para a barraca do sorvete onde, aliás, voltei para repetir minha última peripécia.

Quando voltei correndo para ver a largada faltando alguns segundos no enorme relógio oficial, ouvi o tiro. BANG. Fui atingido pelo susto e o sorvete caiu. Assim que borrou meu pé, olhei pros corredores e ninguém havia saído do lugar e a platéia tossia com a névoa de pensamentos.

Ao voltar pra casa com o pé sujo de morango, minha mãe me perguntou. Um tiro no pé.

.r

Um comentário:

Jacque disse...

O que não fazer quando não se tem o que fazer: ficar perdido numa feira de livros. Ou numa feira de livros perdidos!